
Arquitetura
Você conhece a história dos cobogós?
01/10/2019
Por Lilian Santos
Tudo tem uma história. É tão inspirador saber como produtos usados ??em projetos arquitetônicos e interiores surgiram, não é mesmo? Quando especifico um material para um novo projeto, o conceito de sua criação na minha criação fica até mais fácil de aplicar e analisar se o produto combina com o estilo do cliente. Fiz uma viagem recente para Recife e me hospedei em uma cidade que surgiu em meados de 1537. Passando por lá, vi muitos cobogós. Você sabia que esses elementos vazados são símbolo da arquitetura do nosso país?
O cobogó foi criado em 1929 por dois comerciantes e um engenheiro que usaram os primeiros sobrenomes para compor o nome “co-bo-gó”: Coimbra, Boeckmann e Góes. O desenho foi inspirado nos muxarabis, elementos vazados de origem árabe com tramas pequenas e feitas de madeiras. Eles foram pensados ??para sacadas e janelas de casas com intuito de trazer mais privacidade.
"Os muxarabis estão presentes em várias regiões do Brasil: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Nessas duas últimas quase desapareceram em meados do século XIX. No Rio de Janeiro, devido a uma ordem de retirada de D. João VI. Nas cidades de Salvador, Olinda e Recife existem em grande número. No final do século XVIII desapareceu por ordem dos administradores locais". Trecho retirado do livro “Equipamentos, Usos e Trajes da Casa Brasileira. Equipamentos - Volume 2 ”- Autor Ernani Silva Bruno
Na elaboração de um projeto para regiões quentes e úmidas, é necessário levar em consideração a incidência de luz solar e a ventilação. Pensando nessas necessidades, além da função decorativa, os cobogós também ajudam nesses dois quesitos.
Conforme consta no Dicionário de Arquitetura Brasileira (Corona & Lemos, Editora Edart), cobogó (ou "combogó", como era descrito antigamente) é o nome que se dá, principalmente no Norte do Brasil, ao elemento vazado feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas, cuja principal função seria separar o interior do exterior, sem prejudicar a luz natural e a ventilação. Nome que é generalizado para designar os elementos celulares usados ??como quebra-sol.
Um dos primeiros projetos de arquitetura em que os cobogós foram usados ??é o da Caixa d'água de Olinda. Projetado por Luiz Nunes em 1934, esse edifício é considerado um marco da arquitetura moderna com seus 20 metros de altura. Os cobogós oferecem permeabilidade à fachada monolítica do prédio que hoje é um mirante e deixa uma vista de 360 ??graus de Olinda e Recife.

Na mesma década em que os cobogós foram criados, o Brasil estava começando a viver o período modernista da arquitetura, que teve início na semana de arte moderna de 1922. O arquiteto desse período desenvolveu projetos com elementos mais geométricos, linhas retas, uso de piloto, fachadas com grandes panos de vidro, uso de concreto etc. Não a toa, os primeiros cobogós foram projetados em concreto e tijolo e com a passagem de anos foram usados ??em diversos materiais e grafismos.
O arquiteto Lucio Costa teve forte influência nesse movimento modernista, divulgando o conceito de uso dos cobogós, valorizando seus benefícios e design em obras arquitetônicas.
Esse elemento vazado também é muito usado em interiores, pois traz luminosidade sem perder a privacidade, deixando ventilar e permitindo uma setorização dos ambientes. Importante para a arquitetura brasileira, os cobogós ainda são materiais de estudos de diversos profissionais. O fotógrafo, designer e pesquisador Josivan Rodrigues, por exemplo, é autor do livro Cobogó de Pernambuco ao lado de Antenor Vieira e Cristiano Borba. Na publicação há um ensaio fotográfico mostrando os elementos vazados aplicados pela cidade de Olinda e Recife.
"Cobogó de Pernambuco é fruto de uma pesquisa imagética e histórica sobre este artefato de origem pernambucana, que se tornou símbolo da arquitetura moderna brasileira. Uma solução criativa amplamente utilizada, presente nas mais diversas edificações do estado e do Brasil, seja na arquitetura oficial, com seu uso expressivo em panos extensos, como, por exemplo, e, principalmente, seu uso vernacular, decorando fachadas e muros baixos de habitações populares, onde aparece de maneira ornamental com sua beleza despretensiosa". Trecho do livro Cobogó de Pernambuco.
Por conta das fotografias de Josivan Rodrigues, também surgiu o projeto Dingbat Cobogó. Como imagens inspiradas no designer gráfico Guilherme Luigi, que é especialista em projetar superfícies de revestimentos dentro da perspectiva da cultura e da memória. Para ele, os cobogós são um elemento de identidade e pertencem ao meio urbano, que proporcionam memória e afetividade. “Na casa dos meus pais, onde eu cresci, existem cobogós. Eles fazem parte do cotidiano de Recife ”, diz Jovisan.
O projeto de Guilherme apresenta 36 símbolos que podem ser impressos em diversos tamanhos, para servir de capa de caderno, por exemplo, ou adesivos para paredes revestidas. Eles estão disponíveis gratuitamente para download no site do Dingbat Cobogó.
Fonte: Casa Vogue | Por Lilian Santos